por Carlos Brito
O Memorando da «troika» e o fundamentalista neo-liberal do actual Governo, ao executá-lo e ampliá-lo, desencadearam o processo destruição total da matriz inicial da Constituição que visava «a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno».
Não foi só esse país que ficou cada vez mais distante. É também a «democracia plena, participada e transparente» que hoje aqui se aponta como referência para o futuro, que o está a ficar também. Isto porque, entre outras razões menos decisivas, as instituições democráticas foram realmente capturadas pelos interesses do grande capital.
Justifica-se assim que o primeiro desafio que nos é proposto nesta área temática seja a pergunta: Como resgatá-las?
A meu ver, esta constitui a alternativa chave que é pedida ao Congresso e, mais do que isso, é a questão central do regime democrático e talvez do país, no período que atravessamos. A resposta reclama uma profunda mudança do poder político e a afirmação de uma vontade política oposta à que tem vigorado entre nós.
Uma obra libertadora de tal magnitude e dificuldade exige, o que não é de menor dificuldade, uma consistente alternativa política de esquerda capaz de gerar um governo firme e consequente. Para chegar aí, não vejo, a curto prazo, outra solução que não seja uma grande coligação que combine a forte expressão eleitoral da moderação e da influência nacional do PS, com a radicalidade militante e coerente do PCP, do BE e demais partidos e associações à esquerda dos socialistas.
Sabe-se como até agora as posições e as práticas das diferentes entidades aqui referidas têm divergido, não dando qualquer sinal ou dando fracos sinais de simpatia por soluções de convergência. Julgo, porém, que na crise histórica em que o país está mergulhado todas as forças de esquerda são chamadas a superar velhas incompatibilidades, rivalidades, conceitos e preconceitos ideológico, artificiais motivos de exclusão para convergirem numa plataforma essencial comum que dê base a uma alternativa capaz de viabilizar o tal governo de mudança.
Creio que não erro ao pensar que é isso que está a ser exigido pelos milhões de portugueses que se debatem nas maiores dificuldades (grande número entre o desemprego e a fome) ou vivem angustiados com medo do dia de amanhã e sobretudo pela indignação nacional que vem descendo à rua à espera de uma resposta, à procura de uma esperança.