por Aires da Costa
No texto de introdução a este tema Portugal é apresentado como um país periférico. No entanto a posição geográfica de Portugal é de uma centralidade óbvia no contexto mundial. Basta olhar para um mapa do mundo e ter em consideração a densidade económica das diferentes regiões.
Em verdade o termo periférico não é usado para descrever uma realidade espacial. Não tenho memória de qualquer político ou economista se ter referido à Inglaterra, v.g., como país periférico. Trata-se de um puro eufemismo para designar a situação de subordinação da economia portuguesa.
Esta não é uma questão de semântica. É completamente diferente pensar uma estratégia partindo da ideia de que somos um país periférico ou de que temos uma economia subordinada, completamente diferente actuar com o sentimento de que somos periferia ou que estamos subordinados: As palavras recobrem conceitos e os homens raciocinam com base nestes.
Nem a produção de ideias e muito menos o desenvolvimento de vontades de actuação resultam de uma actividade laboratorialmente pura. As palavras têm uma carga simbólica e emotiva. Periferia remete para um determinismo geográfico, subordinação para questões de poder. É todo um mundo de contexto de raciocínio que as separa.
Dizer que “a economia portuguesa, do mesmo modo que outras economias periféricas, ficou mais vulnerável” devido à abertura dos mercados europeus e ao alargamento da UE a leste induz subliminarmente a ideia que essa vulnerabilidade resultou do azar da nossa posição geográfica.
De facto a economia portuguesa ficou mais vulnerável, não por causa da sua posição geográfica, mas porque, nestes processos, os interesses portugueses não foram devidamente acautelados. Os motivos deste não acautelamento encontram-se por certo no jogo de forças internacionais, mas também e em primeiro lugar nas dinâmicas da sociedade portuguesa.
Repensar o lugar de Portugal na Europa e no Mundo é indissociável da análise das causas da aceitação entusiástica pela generalidade das elites políticas, culturais e económicas dos valores dos sociedades que constituem o núcleo duro da actual UE. Aceitação esta que é a base ideológica do consenso estratégico ao nível da política externa portuguesa que levou o país a esta situação de quase protectorado.