Por um Serviço Público de Televisão feito por uma empresa pública, a RTP


por Nuno Artur Silva

Mais do que nunca, faz sentido investir na RTP. Não para o imediato, mas para o futuro, no contexto maior de uma política e uma estratégia para o audiovisual e para a Língua.
É preciso lembrar que os maiores custos da RTP são juros da dívida acumulada e custos fixos, em que há muito por onde cortar.
Onde não faz sentido cortar é nos conteúdos. Eles são a razão de ser e o maior valor da RTP. E se é verdade que, cada vez mais, os conteúdos podem ser vistos de forma independente a qualquer hora, a marca de uma estação faz-se não só pela escolha mas também pela forma de agregar os conteúdos e de os programar em canais.
Daí a importância da rede de canais da RTP, de rádio e de televisão, da marca específica de cada um e da sua complementaridade.
Não faz sentido reduzir a discussão à questão de haver um ou dois canais de televisão em sinal aberto. O que faz sentido é o futuro da RTP e o da TDT ser articulado em conjunto. Ou seja, os portugueses não devem ter de pagar duas vezes por canais da RTP exclusivos no cabo ou na IPTV. Todos os canais da RTP devem estar na TDT:
● RTP1: generalista, transversal;
● RTP2: para múltiplas minorias, privilegiando o desenvolvimento da informação (reportagem e análise);
● Memória: o passado em perspectiva a partir do arquivo da RTP;
● Infanto-Juvenil: investir num canal para todas as crianças e jovens da lusofonia.
(Todos sem intervalos publicitários, mas com possibilidade de terem patrocínio e, pontualmente, product placement).
Para além destes, só vejo sentido numa RTP Internacional com o melhor da programação desses quatro e janelas regionais. Uma janela para África em vez da RTP África.
A informação deve estar presente de diferentes maneiras em todos, de acordo com a marca de cada um. E em permanência nas plataformas multimédia.
Será também desejável reduzir os meios da RTP ao indispensável – serviços de informação, arquivo, cobertura de eventos, emissão, continuidade e promoção – abrindo a RTP à produção independente nacional e internacional (a RTP deve continuar a ter o melhor da produção internacional).
Fundamental é garantir um financiamento estável para a RTP, idealmente pela taxa actual. E seria desejável que a nomeação do presidente do CA fosse feita pela Assembleia da República.
Igualmente fulcral é o estabelecimento de uma taxa sobre todas as plataformas para a criação de um fundo de apoio à produção audiovisual.
Um país é tanto mais rico quanto mais as suas redes de informação e ficção forem plurais e diversas. No momento presente, em Portugal, a RTP tem um papel indispensável na garantia dessa diversidade.