Acabar com o monopólio dos partidos nas eleições legislativas


por Domingos Lopes

Vivemos em crise profunda no sistema de representação dos cidadãos nas instituições que exercem o poder.

Os cidadãos não se sentem representados pelos eleitos, embora os tenham elegido. Há um divórcio que não cessa de se acentuar.

Os cidadãos sentem que os políticos (o que é injusto) são todos iguais, que existem para fazer da política uma arte de subir na vida. Entendem a política como algo sujo e obscuro.

E ligam-na ao tráfico de influência, “aos arranjinhos”, e à própria corrupção. Este é um sentimento bastante generalizado.

A usurpação da política por parte do poder económico e a vassalagem dos partidos políticos do arco do poder (PS, PSD e CDS) àquele poder, fazendo com que as eleições nas últimas décadas resultem praticamente na mesma política, leva ao divórcio entre os eleitores e os eleitos, entre o povo e as instituições.

O quadro partidário atual caracteriza-se pelo descrédito quer nos partidos do poder, quer nos da oposição, o que é um trunfo nas mãos do poder económico, o que tem realmente o poder de tudo condicionar e passar despercebido aos olhos dos cidadãos.

As poderosas manifestações do passado dia 15 de Setembro mostram a todas as luzes o quanto os cidadãos se sentem empenhados em se auto organizarem e responderem ao desafio do atual governo.

Ora se os partidos se movem no quadro do seu interesse exclusivo, e se não está em causa a sua existência, podem ou não os cidadãos lutarem por outro tipo de representação, sem pretenderem que seja uma alternativa aos partidos políticos?

A evolução do nosso sistema partidário criou esse fosso entre povo e eleitos.

A acentuar-se este fosso, corre-se o risco de qualquer aventura de tipo autoritário.

A fim de dar a possibilidade de mais escolhas e agir de nodo a que os eleitos representem melhore os eleitores.

Em meu entender os cidadãos devem poder organizar-se em associações políticas e movimentos e retirar a exclusividade aos partidos no que se refere ao poder de concorrer a eleições parlamentares.

Sou favorável a que se acabe com o monopólio da representação parlamentar aos partidos políticos.

As manifestações de repudio pelo memorandum da troika que mobilizaram largas centenas de milhares de cidadãos de portugueses no continente e nas ilhas mostram o quanto os cidadãos estão empenhados em lutar pelos seus interesses, independentemente do papel dos partidos.