por Pedro Mendonça
1- Democracia económica
O problema da democracia não diz respeito só à democracia em si como sistema político. É uma questão socioeconómica. Só no quadro da democracia se compreende o tema da desigualdade como uma problemática em lugar de uma fatalidade. A crise atual, que tem acentuado desigualdades, é também uma questão de democracia. Em lugar de aceitarmos esta política selvagem do “salve-se quem puder”, em que os fracos perdem mais por terem menos instrumentos, devemos pensar a economia como um espaço de comunidade e sublinhar que existem recursos civilizacionais para uma democracia económica.
2 – Independência dos partidos
Um dos incentivos mais discretos à corrupção é o financiamento dos partidos depender de interesses privados. Ninguém dá nada sem esperar algo em troca. Os partidos acabam a representar mais quem os financia do que quem os elege. Uma forma de contrariar esta situação seria fazer do financiamento dos partidos com representação na Assembleia da República um exclusivo do Estado. Para que os gastos não fossem excessivos reduzir-se-iam as campanhas e as estruturas a custos mínimos. As tecnologias atuais permitem-no.
3 – Pragmatismo ético
Por mais que a distinção esquerda/direita pareça favorecer a clareza da escolha democrática, a verdade é que, na deliberação política, engaveta as ideias, criando oposições metafísicas que entorpecem o pensamento sobre a realidade. Reconhecendo algumas diferenças de valores entre ambas, é impossível olvidar semelhanças de muitos dos seus propósitos. Por isso, é preciso pensar a realidade com pragmatismo, no bom sentido, isto é, em função de uma ética. Só assim os partidos à esquerda do PS, por exemplo, podem responsabilizar-se pela governação.
4 – Europa mais coordenada e legitimada
Neste momento não é possível mais democracia sem mais Europa. A não ser que saiamos da União Europeia. Como não é isso que queremos, é essencial trazer a Europa para o debate político, percebendo que é nessa plataforma que temos influência sobre a nossa vida e não somente ao nível nacional. Não temos poder sobre o país como uma entidade uni-orgânica. Por esta razão, é necessário um governo que procure alianças em parceiros europeus com interesses comuns e que pressione para um corpo político europeu mais legitimado democraticamente.