A falta de convergência à esquerda estava até há pouco a garantir a sobrevivência da direita. A verdade é que, mesmo sem alternativa, a onda popular não pôde ser mais contida. Só ela poderá construir a solução.
Um ponto crítico é a hieraquização dos objectivos, com privilégio ao memorando, relegando-se erradamente a mudança de governo para segundo plano. A nossa posição é que a questão supranacional só terá perspectiva se mudarmos de governo. Mesmo que as eleições levem a um governo ambíguo, será não só um desfeitear dos liberais, mas melhorará a pressão popular.
Quanto ao memorando nota-se o carácter retrogrado do capitalismo português face a uma visão de capitalismo desenvolvido. O governo só cuida de atacar o custo da mão de obra mas adia certas modernizações porque os nossos capitalistas têm horror a perder apoios do Estado. Um governo progressista resolveria alguns dos problemas porque muitas das tarefas democratico-burguesas da tranformação, só o povo as resolverá.
Com a esquerda há aspectos inscritos no memorando que deveriam resolver-se. Cito o combate à corrupção, a reforma da justiça e do fisco, cortar as duplicações do Estado, reorganizar o SNS, dar coerência aos subsistemas de saúde, combater a baixa escolaridade e aumentar a qualidade do capital humano, cortar as rendas dos oligopólios, resolver as parcerias PP, erguer uma supervisão bancária estrita a favor da sociedade e combater os lugares dos boys.
Há contudo objectivos pró-capitalistas no memorando como a legislação laboral e privatizações que exigem firmeza. Bem como a questão da renogociação da dívida e juros.
Não escondemos que nós queremos folga, não para ficar na mesma, mas para empreender uma nova economia.
Não se deve favorecer a separação de Portugal da União Europeia, pois agravar-se-iam os termos negociais dado que negociaríamos já fora da União Europeia. Nós queremos melhor capacidade negocial e ser parte da mudança na Europa. Queremos alargar alianças na própria Alemanha e apoiamos o filósofo Habermas para mais cooperação contra o capitalismo. Não cabe a nós desistir de combater os previlégios de nação dominante e os liberais que são quem promove o egoismo nacional-burguês.
Concentremo-nos então na mudança de governo na esteira das manifestações de Setembro. Uma mudança impõe um desafio ao Partido Socialista e é por aí que devemos trabalhar.