Congresso Democrático das Alternativas: uma proposta para o dia seguinte


por Henrique Sousa

O Congresso, enquanto reunião de cidadãos, não pode ser um fim em si mesmo. Um colóquio em ponto grande, ou um espaço de diálogo político que se esgota na Aula Magna e se dissolve na espuma dos dias. Não seria pouco, tendo em conta o passado de (quase) ausência de diálogo das esquerdas. Mas não chega. Se o Congresso encerrasse no dia 5, sem abrir uma perspetiva de futuro a esta experiência de diálogo em que tornámos a aprender a virtude da tolerância, a escutar o que o outro tem para dizer, a procurar compreender a diferença e a buscar o que é comum, frustraria certamente as expectativas da grande maioria dos milhares de subscritores e apoiantes da sua convocação.

A reunião do Congresso em 5 de Outubro pode ser um passo em frente na caminhada dos muitos, cada vez mais, com e sem partido, que acreditam que juntar forças é preciso e urgente e que ninguém chega lá sozinho. Se a reunião de 5 de Outubro é um passo, ganha sentido que a um passo se acrescentem outros passos na mesma direção. No mesmo caminho.

Construir os denominadores comuns para uma política alternativa ao programa austeritário não é tarefa apenas para a reunião do dia 5 de Outubro na Aula Magna, é responsabilidade de muitos e não apenas do Congresso. Mas esse propósito exige continuidade e muita participação. Que o Congresso seja constituinte de um processo e não apenas um evento significativo. Um espaço de mobilização permanente dos cidadãos, com e sem partido, com consequências no debate político das esquerdas, na produção qualificada de ideias e propostas e na pressão positiva sobre o sistema político.
Como projetar então no dia seguinte a dinâmica de mobilização cidadã e de debate político plural que o Congresso está a originar?

O caminho que propomos é o da continuação do Congresso Democrático das Alternativas, com esta denominação, como assembleia ou fórum permanente de mobilização política plural e inclusiva dos cidadãos, vocacionado para a construção de denominadores comuns de políticas alternativas à austeridade, que claramente não aspira a ser partido nem a concorrer com os partidos, dotado de um “contrato político” que seria a declaração a aprovar, a qual deveria inscrever esta perspetiva de ação futura. Que a Comissão Organizadora seja mandatada para assegurar este processo, apoiada na organização em todo o país dos apoiantes do Congresso. Que as propostas contidas na declaração sejam objeto de ulterior e ampla divulgação no espaço público e junto das instituições, organizações sociais e partidos políticos, e sujeitas a um processo de debate, enriquecimento e desenvolvimento participados.