Dignificar o trabalho com uma economia sustentável


por Manuel Brandão Alves

Vivemos tempo de desnorte com o trabalho a percorrer caminhos de quase escravidão. A construção de uma economia sustentável permitiria evitá-lo.

O trabalho liberta e dignifica a condição humana, se a economia e a sociedade o souberem integrar, de modo a que os trabalhadores o tomem como libertador.

Uma economia sustentável é uma economia que sustenta objetivos societários. Associa-se muitas vezes a ideia de uma economia sustentável com a de uma economia amiga do ambiente, o que supõe á escolha do ambiente de que se quer ser amigo. Tem que ser amiga do ambiente mas, também, amiga do Homem, e possuir capacidade para se reproduzir no tempo e no espaço.

Para ser amiga do Homem, terá de ser amiga do mundo do trabalho. E só o será se, em todas as circunstâncias onde o trabalho está presente, ele for considerado libertador, dignificante e força positiva da felicidade.

O mundo do trabalho tem muitas geografias. A mais significativa é a da empresa. No sistema capitalista o motor do funcionamento da empresa é o capital. É nele que se encontra a responsabilidade de toda a “iniciativa”. O trabalho está, por isso, subordinado ao capital. Nega-se o modelo de empresa enquanto comunidade de interesses, dos trabalhadores e, de forma subordinada, do capital.

Ao serviço da empresa deveriam estar, igualmente, as instituições financeiras. Nas últimas décadas esta relação inverteu-se e as instituições produtivas passaram a subordinar-se ao mundo financeiro. O capital passou a aí extrair, de modo privilegiado, as mais-valias de que se alimenta.

Com a globalização incontrolada da circulação de capitais e as designadas inovações financeiras, o capital, construiu um mundo de tropelias insaciáveis. Daí, não se poderia esperar senão o desastre. E assim chegou a hecatombe de 2008.

Quando se esperava que, depois disso, o monstro fosse dominado eis que levantou a cabeça e, de novo, passou a dominar, instituições produtivas, nações e mesmo instâncias internacionais. A inação dos poderes públicos e das instituições internacionais, porventura os seus principais aliados, explica este seu novo dinamismo.

As administrações tornaram-se dele, simples presas. Hoje, o seu objetivo é ressarcir-se das perdas com que em 2008 e nos anos seguintes se confrontou, à custa da expropriação (desvalorização) do trabalho e do empobrecimento das nações, sobretudo, daquelas que a tal melhor se prestam. Será que esta espiral de degradação é inevitável?

Não, mas para tal torna-se indispensável um grande movimento de mobilização, nomeadamente do mundo do trabalho, que mostre que uma outra cidadania é possível. O caminho é árduo, mas não se pode dele abdicar.

É uma ambição que não é possível de ser satisfeita num quadro exclusivamente nacional; as instituições internacionais têm que ser colocadas, também, ao serviço da economia sustentável, nas suas dimensões, nacional e global. Contrariamente ao que nos poderão fazer crer, o capital assusta-se facilmente (são muitos os exemplos históricos); é necessário capturá-lo e coloca-lo ao serviço da economia sustentável.

Por isso, entre nós, o Governo e o seu Chefe não podem continuar à solta, com as suas acrobacias, transformando a economia e a sociedade portuguesa em instrumento dócil dos interesses do capital financeiro.

É urgente que se coloque a economia a crescer e a desenvolver-se; com dinâmicas social e territorialmente inclusivas. Não é mais tolerável o discurso dourado da equidade, quando tudo o que é anunciado só aprofunda a iniquidade.