Por Teresa Villaverde
Seria importante que a sociedade toda pudesse discutir o provisório, o definitivo e a esperança. A esperança é a base de qualquer desenvolvimento, pode-se viver sem esperança, mas pouco mais do que um palmo se vê à frente do nariz. Sem esperança temos um olhar opaco que só vê a própria angústia.
Penso que Portugal está a experimentar um momento assim, sem esperança, ao mesmo tempo que se está a desintegrar, a criar ilhas de pessoas separadas de todos e ilhas desertas sem ninguém.
Para muitas pessoas este estado, dito provisório, do país, está a criar males definitivos e irreparáveis, a destruir completamente as vidas, a ideia de futuro, de projecto de vida. Quando uma cidade inteira é bombardeada numa guerra, ou acontece um grande terramoto que deixa tudo no chão, são acontecimentos trágicos que abrangem todo o grupo. Mesmo que abranjam uns mais que outros, há uma identificação entre todos, uma empatia e uma solidariedade gerais. Isto que vivemos é diferente, o drama vem aos poucos e não toca todos ao mesmo tempo. Arrisco dizer um sacrilégio, mas em muitos casos, acredito que estas angústias individuais e silenciosas possam ser piores de viver do que quando cai a cidade toda, exactamente por serem individuais e silenciosas.
Com o agravar das condições de vida das pessoas, e com o espalhar desse mal a mais pessoas, talvez aconteça a angústia ser mais pública e menos sozinha, e comece a transformar-se em raiva, e a raiva é um sentimento que traz energia. Mas não podemos ficar à espera para ver se isso se confirma ou não, e confirmando-se que utilidade tem, porque justamente, sem esperança e sem dinheiro, a vida das pessoas, pela forma como a nossa sociedade está organizada, deteriora-se a um ponto sem retorno, a vida, as relações entre as pessoas. Já não há as famílias grandes onde um apoia o outro. A solidão e o isolamento já eram um problema antes deste degradar de tudo.
Hoje tudo se quantifica, mas um pão comido, porque foi dado por uma instituição, é completamente diferente de um pão comprado naturalmente com o nosso dinheiro, pago pelo nosso trabalho. As mudanças bruscas na vida das pessoas são muitas vezes impossíveis de tolerar.
O meu objectivo inicial era escrever sobre o estado da cultura, sobretudo sobre a criação contemporânea, mas estou a escrever no dia 10 de Setembro, e sinto qualquer coisa a começar a ferver, acho que as dúvidas da população em geral já são demasiado grandes para que se evaporem.
Acho que estamos num momento crucial, ou se faz alguma coisa agora ou vamos bater num fundo que vai destruir muita gente, e levar o país para um deserto de onde sairá não se sabe quando, e muitos dos que estamos aqui já não estaremos. E muitos dos que são agora crianças, serão portugueses velhos e pobres.
É um momento demasiado intenso para que os criadores de hoje não se sintam estimulados, o que é triplamente frustrante porque também sem meios, muitos de nós, não nos podemos mexer nem fazer os nossos trabalhos.
Apesar da dificuldade de toda a gente, os criadores têm que acreditar que o seu trabalho é importante e lutar pelo direito de o fazer.
A arte e toda a criação artística pode ter um papel importantíssimo na devolução da esperança às pessoas.
É importantíssimo também que as autarquias entendam que não se pode descurar os apoios às colectividades, aos grupos de teatros locais, aos cineclubes, aos grupos musicais. É muito importante que as pessoas de todas as idades tenham um lado criativo na vida. Quanto menos dinheiro houver mais cultura tem que haver, a balança tem que ser assim. E mais a cultura tem que chegar ao lugar mais fechado e escondido.
No fundo, este meu pequeno texto é um apelo. Temos que sair deste caminho, Portugal ainda tem uma boa constituição da república, tem que se fazer cumprir a constituição. O momento é tão grave, e mais grave será se não se conseguir sair disto, que urgem os consensos. Tem que haver uma plataforma abrangente de esquerda, a esquerda toda, que se apresente para governar com um programa de consensos, mas consensos urgentes. Que se apresente com um programa com um tempo limitado e que cumpra o programa de emergência com a máxima urgência.
Seria importante que a sociedade toda pudesse discutir o provisório, o definitivo e a esperança. A esperança é a base de qualquer desenvolvimento, pode-se viver sem esperança, mas pouco mais do que um palmo se vê à frente do nariz. Sem esperança temos um olhar opaco que só vê a própria angústia.
Penso que Portugal está a experimentar um momento assim, sem esperança, ao mesmo tempo que se está a desintegrar, a criar ilhas de pessoas separadas de todos e ilhas desertas sem ninguém.
Para muitas pessoas este estado, dito provisório, do país, está a criar males definitivos e irreparáveis, a destruir completamente as vidas, a ideia de futuro, de projecto de vida. Quando uma cidade inteira é bombardeada numa guerra, ou acontece um grande terramoto que deixa tudo no chão, são acontecimentos trágicos que abrangem todo o grupo. Mesmo que abranjam uns mais que outros, há uma identificação entre todos, uma empatia e uma solidariedade gerais. Isto que vivemos é diferente, o drama vem aos poucos e não toca todos ao mesmo tempo. Arrisco dizer um sacrilégio, mas em muitos casos, acredito que estas angústias individuais e silenciosas possam ser piores de viver do que quando cai a cidade toda, exactamente por serem individuais e silenciosas.
Com o agravar das condições de vida das pessoas, e com o espalhar desse mal a mais pessoas, talvez aconteça a angústia ser mais pública e menos sozinha, e comece a transformar-se em raiva, e a raiva é um sentimento que traz energia. Mas não podemos ficar à espera para ver se isso se confirma ou não, e confirmando-se que utilidade tem, porque justamente, sem esperança e sem dinheiro, a vida das pessoas, pela forma como a nossa sociedade está organizada, deteriora-se a um ponto sem retorno, a vida, as relações entre as pessoas. Já não há as famílias grandes onde um apoia o outro. A solidão e o isolamento já eram um problema antes deste degradar de tudo.
Hoje tudo se quantifica, mas um pão comido, porque foi dado por uma instituição, é completamente diferente de um pão comprado naturalmente com o nosso dinheiro, pago pelo nosso trabalho. As mudanças bruscas na vida das pessoas são muitas vezes impossíveis de tolerar.
O meu objectivo inicial era escrever sobre o estado da cultura, sobretudo sobre a criação contemporânea, mas estou a escrever no dia 10 de Setembro, e sinto qualquer coisa a começar a ferver, acho que as dúvidas da população em geral já são demasiado grandes para que se evaporem.
Acho que estamos num momento crucial, ou se faz alguma coisa agora ou vamos bater num fundo que vai destruir muita gente, e levar o país para um deserto de onde sairá não se sabe quando, e muitos dos que estamos aqui já não estaremos. E muitos dos que são agora crianças, serão portugueses velhos e pobres.
É um momento demasiado intenso para que os criadores de hoje não se sintam estimulados, o que é triplamente frustrante porque também sem meios, muitos de nós, não nos podemos mexer nem fazer os nossos trabalhos.
Apesar da dificuldade de toda a gente, os criadores têm que acreditar que o seu trabalho é importante e lutar pelo direito de o fazer.
A arte e toda a criação artística pode ter um papel importantíssimo na devolução da esperança às pessoas.
É importantíssimo também que as autarquias entendam que não se pode descurar os apoios às colectividades, aos grupos de teatros locais, aos cineclubes, aos grupos musicais. É muito importante que as pessoas de todas as idades tenham um lado criativo na vida. Quanto menos dinheiro houver mais cultura tem que haver, a balança tem que ser assim. E mais a cultura tem que chegar ao lugar mais fechado e escondido.
No fundo, este meu pequeno texto é um apelo. Temos que sair deste caminho, Portugal ainda tem uma boa constituição da república, tem que se fazer cumprir a constituição. O momento é tão grave, e mais grave será se não se conseguir sair disto, que urgem os consensos. Tem que haver uma plataforma abrangente de esquerda, a esquerda toda, que se apresente para governar com um programa de consensos, mas consensos urgentes. Que se apresente com um programa com um tempo limitado e que cumpra o programa de emergência com a máxima urgência.