por José Antunes Ferreira
Democracia só o é quando vivida, acontece pouco, pululam os entraves e os subterfúgios para a agrilhoar. São imensos os velhacos; os interesses espúrios e o dolo amontoam-se!
Liberdade e democracia, estandarte de combatentes e grito de insurreição são, vezes sem fim, usurpadas por fingidos, travestidos de patriotas e democratas, maus da fita com lábia farta, que conseguem até arregimentar “progressistas” ingénuos e irreflectidos.
Sempre de olho bem aberto e sem vacilar, um poderoso e perigoso exército de interesses apostado, reles e insaciavelmente, em empanturrar-se à custa do fado triste dos homens e das mulheres - muitos, mas mesmo muitos milhões de portugueses – nunca desarma.
Nenhuma senhora de Fátima poderá acudir ao povinho enquanto persistir tão cega e inclemente ordem. Em Portugal – ainda há pouco ouvia «90% ficam fora destas medidas» - milhões de seres humanos são condenados às migalhas, têm que sobreviver com expedientes. Para não naufragarem teriam que ser heróis. E é claro que os há!
A indignidade a que obrigam os súbditos desvalidos é canalhice, afunda e nega qualquer tipo de democracia por esvaimento dos pretensos cidadãos. Trata-se de um embuste onde somos figurantes. E toda a corte dos esbulhados, excluídos, agrega potencialidades imensas de que ninguém usufrui.
Só resolvendo tão vil sordidez se restauraria a esperança séria, soluções honestas afectariam positivamente cada um de nós. Bastantes, em operações de subtracção aos desprotegidos, engendraram (para garantir aos bem-afortunados a sua ”merecida” condição) a flexibilidade no trabalho. Pois, acho bem, mas é pouco, é de gente com vistas curtas, a coisa só pode ser boa se todos dela experimentarmos.
A Flexibilidade Generalizada pode salvar povos, países, a humanidade… tem que alastrar a tudo e a todos. Responde a praticamente todas as questões, anseios e aflições, que se põem e virão a pôr. Aliás, respostas realmente válidas só surgirão com um desenho social em que a flexibilização generalizada e a distribuição de todas as riquezas – e as maiores não são nem as económicas nem as financeiras – seja realmente cumprida.
Todas as relações, situações e instituições, com oxigenação e frescura renovadas, seriam pouco a pouco transfiguradas. Com consequências proveitosas para todos. Uma vida satisfatória e equilibrada está cada vez mais longe das pessoas – até dos que se enchem à tripa forra - cada vez mais a vida “moderna” vira pesadelo, angústia e doença. Pôr fim a tal escravidão é imperioso e essencial para a democracia, que apenas pode ser inteira quando edificada por todos com uma consciência pura e limpa.
Uma sociedade justa e equilibrada impõe a repartição das tarefas, e das responsabilidades, por todos. Muito do tempo assim ganho, redundaria em favor dos cidadãos, até agora assoberbados quase exclusivamente pela subsistência e por medos. Portanto as questões que cíclica e repetidamente nos assaltam e os problemas crónicos de que padece o país, quando todos estiverem com a mão na massa (do pão) e com o olho no que importa, conhecerão finalmente soluções mais escorreitas. A não ser assim, será mais do mesmo!
As actividades profissionais terão que ser divididas e, nelas, haver rotação para que a responsabilidade caiba a todos, para que os conhecimentos sejam acrescidos, para que o traquejo aumente e, assim, não subsistindo salvadores (da pátria, messias ou outra qualquer coisa), nos capacitemos que os destinos individuais e colectivos estão nas nossas mãos.
Menos tempo de actividade profissional traz mais segurança, menos fadiga e melhor raciocínio, facilita a fruição da família, dos amigos, da arte e da cultura, possibilita o estudo e as actividades de que mais se gosta, propicia a cidadania e a reflexão sobre a coisa pública, dá mais equilíbrio, menos stress e, no mundo do trabalho, resultará mais saúde e menos acidentes e mortes. O empobrecimento, que, como o mofo, invade e corrói tudo, será erradicado.
Resumindo, não entraremos no paraíso, mas sairemos do calvário sempre para os mesmos. Haverá mais pessoas profissionalmente activas, mais equidade salarial e mais oportunidades. A vida, mesmo dura, terá mais sabor. Não percamos agora tempo com o rançado, tratemos do que realmente importa, a equidade que restituirá a milhões de desvalidos dignidade e, à democracia, autenticidade. Há que estudar com rigor, clareza e coragem as aplicações e as consequências da flexibilidade generalizada evocando a globalização duvidosa e os recursos limitados do planeta.